"Objeto Ativo" 1961 - Willys de Castro


    "Isso é arte?" ou "Por que isso é arte?" devem ser os principais questionamentos de uma pessoa ao ver obras modernas em museus e exposições. Isso porque existem diversos conceitos filosóficos que definem arte, isto é, que buscam uma definição para algo tão subjetivo. Para entendermos um pouco mais sobre esse tipo de arte, o seguinte texto analisará uma obra da vanguarda neoconcreta no Brasil.


Objeto Ativo - 1961


       "Objeto Ativo" é na verdade uma serie de produções do artista multidisciplinar brasileiro Willys de Castro (1926 - 1988) e, de certa forma seu trabalho mais emblemático, por possuir um interesse pelo objeto tridimensional e bidimensional, sintetizando estudos anteriores do próprio artista e evidenciando a compreensão que Willys fazia da arte do seu tempo (pós moderno) indo além do abstracionismo, incluindo características essenciais de dois gêneros artísticos: a pintura e a escultura.


        Em uma breve descrição da obra ilustrada acima, podemos dizer que o objeto é um sarrafo de madeira longitudinal, que foi encoberto pelo tecido de uma tela desemoldurada, pintado e depois pendurado na parede pela sua lateral. O padrão rítmico dos blocos de cores dessa obra preta, branca e amarela chama atenção para as bordas do objeto, convidando o espectador a andar ao redor dela. Assim, o passeio pelo objeto provoca o que a revista Habitat descreveu da seguinte forma:


A nova obra de arte não está estagnada. Este novo objeto colocado dentro do mundo sensível torna-se um objeto ativo. (REVISTA HABITAT, 1960).


Após observar o objeto e ler o trecho da revista Habitat é possível relacionarmos a obra “Objeto Ativo - 1961” com conceitos abordados por Alexander Baumgarten (1714 - 1762), o pai da Estética (campo da filosofia que estuda a arte). Para o filosofo Baumgarten a arte é representação sensível, conceito que foge das ideias clássicas de Platão e Aristóteles como arte sendo mimese (=imitação) da realidade, não passível de ser compreendida pelo intelecto. Na filosofia baumgartiana, o artista se orienta pelo mesmo critério do homem comum: representar a partir da experiência, por isso tem-se a arte como representação sensível. Apesar da faculdade do espírito (= 'intelecto') possuir dois graus para Baumgarten: nível racional (dotado de precisão e clareza) e nível sensível (considerado confuso/obscuro), o nível sensível:


é passível de ser elevado a uma perfeição que, mesmo não atingindo a verdade lógica, corresponde a um correlato desta, a verdade estética. (BAUMGARTEN, 1993, p. 120)


Sendo assim, a arte de Willys de Castro “Objeto Ativo - 1961” colocada no mundo sensível a partir da experiência do passeio pelo objeto, seria uma representação sensível na conceituação de Baumgarten. Isso porque o “Objeto Ativo” desperta a atenção do observador, causando curiosidade para conhecer suas outras faces devido ao jogo da obra como escultura –tridimensional; e pintura – bidimensional.


A experiência da percepção do “Objeto Ativo - 1961” através da faculdade de espírito no nível sensível, ao confundir o observador com sua verdade estética dual (tridimensional e bidimensional), proporciona uma experiência em êxtase: que conduz à anulação da percepção do Eu temporariamente, enquanto o observador experiência a totalidade do objeto. Em outras palavras, "Objeto Ativo - 1961" faz o observador enquanto está descobrindo o que de frente parece uma pintura e lateralmente parece uma escultura, esquecer do mundo a sua volta e focar na obra de Willys de Castro. Baumgarten elucida sobre esse momento de descoberta do novo da seguinte forma:


A luz da novidade ilumina as representações de um modo incomum. O conhecimento intuitivo da novidade, a admiração, desperta a curiosidade, a curiosidade a atenção, e a atenção uma nova luz fornece à coisa que deve ser configurada pictoricamente. Disso se segue que as coisas que serão pensadas belamente, quando precisam ser esclarecidas, devem ser postas de tal modo que por meio de sua novidade nasça a admiração, por meio da admiração, o interesse de conhecer claramente e, por fim, por meio do interesse, a atenção. (ESTÉTICA, 1750 -1758)


Assim a contemplação da arte de Willys desperta através da curiosidade a admiração e o interesse de conhecer claramente citado por Baumgarten. Na citação acima o filosofo ainda explana sobre as coisas pensadas belamente, como por exemplo podem ser as obras de arte, que para ele deveriam proporcionar admiração. Essa experiencia acompanha todos os objetos ativos do artista:




Objeto Ativo 1950's


Objeto Ativo 1961



Objeto Ativo 1962

Por isso, a partir do exposto, temos que a série de produções “Objeto Ativo” (1950 - 1960) de Willys de Castro é sim uma composição artística e uma importante marca do movimento Neoconcreto brasileiro, vanguarda que se distancia do concretismo e possui maior liberdade de experimentar com formas geométrica, integrando a percepção e a subjetividade do espectador a obra.


       E aí, você visitaria uma exposição das obras de Willys de Castro?




      texto por:
Raquel Figueiredo

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